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Aquela olhada por cima do ombro...

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Naquele entardecer de 14 de julho de 1966 fazia muito frio em Santa Maria. E chovia muito. Tempo feio para uma data tão importante. Que certamente não era a data nacional da França. Com a tomada da Bastilha. Mas era uma data de outra tomada de posição. Diante dos familiares. Dos amigos. Da vida. E do mundo.

Já no altar da Catedral de Santa Maria, ao lado dos padrinhos e testemunhas, o noivo espera. Pela noiva. E pelo monsenhor Érico Ferrari, oficiante do casamento, que pouco tempo depois seria bispo. E naqueles cinco ou 10 minutos de espera, pela sua mente inquieta,  desfilaram em imagens aceleradas dois anos de namoro e um ano de noivado.

Tudo começou com aquela olhada por cima do ombro que ela lhe deu na "Primeira Quadra" - hoje Calçadão Salvador Isaia - depois da saída da sessão de cinema no Cine Glória em 23 de janeiro de 1963. O que ensejou que ele lhe telefonasse naquela noite mesmo na cara e na coragem indagando "sutilmente" se a olhada tinha sido para ele mesmo. Depois de um silêncio soturno, a confirmação que iniciou o romance.

O namoro iniciou no último dia do vestibular dele. Ele já trabalhava - com 21 anos - como auxiliar administrativo concursado do Samdu e dava aulas de biologia no Santa'Anna e cursinho. Todo dinheiro que ganhava era parte empregado no sustento pessoal e parte investido na compra de móveis e demais objetos para montagem de uma casa, o que enchia de espanto os familiares dela. Pois tinha recém começado o namoro e com pouco mais do que 16 anos, ainda fazendo o Curso Normal no Olavo Bilac.

Três anos se passaram e o destemido e teimoso moço alugou uma casa e montou toda a estrutura para morar um casal. E passou ele mesmo a morar sozinho nela. Pediu a moça em casamento  quatro meses antes mesmo da formatura dele. Os mais velhos da família, de ambos os lados, viam com temor aquela pressa e achavam uma ousadia. Mas nada podiam objetar porque o moço era estudioso, trabalhador e a moça o queria.

Ele trabalhou quase meio século como professor universitário. E também em rádio, TV e jornal. Ela é formada em Educação Física.

No dia de hoje, ambos estão comemorando 54 anos de casados. Bodas de Níquel. Para quem estuda Química, o níquel é um material de grande ductilidade, que é a capacidade de suportar deformações, fraturas e rompimentos mesmo quando submetidos a cargas. E também tem grande maleabilidade, além de ser resistente à corrosão e à ferrugem.

Nada mais simbólico do que o níquel para marcar estas bodas de 54 anos de casamento. Levando-se em conta que a média de duração dos casamentos no Brasil atualmente é de 4,5 anos apenas, segundo dados do IBGE. Há necessidade nas relações a dois de muita resiliência, companheirismo, paciência, capacidade de perdão, maleabilidade e ductibilidade.

Daquela olhada por cima do ombro naquela distante noite de 1963 em plena "Primeira Quadra" brotaram hoje três filhos, seis netos, genros, nora. E a certeza cada vez maior de que não existe nada mais importante no mundo do que a família.

Eu te amo, Vera Maria! Parabéns pelo nosso dia!

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